Aos poucos, a espiritualidade começa a ser integrada na minha visão da vida e a articulação com o dia a dia a melhorar.
De acordo com os ensinamentos da Advaita Vedanta, nós somos, em essência, consciência pura. Essa consciência será a única existência do universo, já que o que experienciamos é uma interpretação da nossa mente que a própria consciência acredita ser real. Os seres humanos têm uma sensação de existência própria (eu sou....) fruto da capacidade da mente interagir com essa consciência, que quando associada à mente se esquece que é a única realidade. Esta consciência individual é designada consciência refletida.
No nosso dia a dia sentimos ser essa pessoa, esse indivíduo e não uma consciência pura. A iluminação acontece quando a consciência refletida se lembra que não é este indivíduo, mas sim a consciência pura, origem de todo o universo. A ser assim, nós vivemos uma ilusão fruto dessa ignorância da consciência refletida. Para chegarmos aos fundamentos da existência, necessitamos percorrer os caminhos da espiritualidade até à iluminação. E o que temos que fazer para que tal aconteça? Há um conjunto de práticas que nos aproximam, mas a verdade é que necessitamos transcender o indivíduo, o ego, e tudo o que achamos que fazemos é este indivíduo que faz.
Conclusão, nós não somos verdadeiramente nós. Nós e todo o universo somos uma criação da mente, que a consciência refletida acredita ser verdadeira. Necessitamos transcender o ego, mas todos os esforços, todas as ações, contribuem para o reforço do ego, já que são pontos adicionais para a sua identidade. Eu sou espiritual, eu estou no caminho da iluminação, tudo isto é o ego a criar uma identidade. Então, o que fazer? O que realmente me parece que podemos fazer é viver, enfrentar os desafios da vida e usufruir das coisas boas, mas com a ideia sempre presente que é apenas um jogo, tudo é uma ilusão mental. Tudo isto na expetativa que com esta postura bem consolidada, a própria consciência refletida deixe de se identificar com esta pessoa e revele a sua verdadeira natureza.
Na verdade, nada há a fazer, a não ser ter sempre presente que nada fazemos... Mas desta forma, podemos fazer tudo, porque não estamos a reforçar o ego. Paradoxal, muito paradoxal...