Não sei se decorre da nossa natureza ou da organização social, mas temos uma necessidade de nomear, de definir as coisas. É útil dar um nome às coisas e catalogá-las, agrupá-las; organiza e torna tudo mais fácil. Mas quando toca a nós próprios talvez não seja o ideal.
Hoje lembrei-me como a minha filha mais velha gostava de se considerar maria rapaz. No início, gostar de futebol ou brincar com rapazes levou a que essa expressão fosse usada. Mas depois, quando ela própria se identificou com esse conceito, pode ter acontecido um condicionamento mental para se comportar de acordo com esse modelo, ou seja, só gostar de "coisas de rapazes" (seja lá o que isso for). Pensei para mim próprio que será adequado estimulá-la a fazer coisas de que goste, sejam de rapazes ou raparigas. Obviamente, se se limitar ao modelo deixa de conhecer e usufruir de outras atividades igualmente divertidas.
Partir daqui para uma generalização é um passo muito rápido. Quando procuramos uma identidade, a tendência é caracterizar-nos: simpatia, alegria, bondade, compaixão, amor, etc... Também aqui se aplica esta ideia: quando nos caracterizamos, também limitamos a nossa existência. A verdade é que a vida apresenta-nos um conjunto imenso de possibilidades, alternativas ou experiências a todos os níveis e nós temos capacidades gigantes dentro de nós para sermos o que quisermos. Quando dizemos sou mau a matemática, não tenho jeito para desenho, não tenho sentido de humor, só gosto de bananas, ser chefe não é para mim, etc... estamos, muitas vezes, a limitar todo o potencial que existe dentro de nós. Não vou falar aqui de medos e inseguranças.
O outro ponto a que isto me levou foi ao tema do autoconhecimento. Associamos a saber melhor quem somos e o que estamos aqui a fazer, ou seja, procuramos clarificação, identificação, nomeação. E se o autoconhecimento nos levar no sentido oposto? De abertura a tudo, ao mundo, ao outro, às experiências, à vida e suas ilimitadas possibilidades? Se nos catalogamos estamos a trabalhar ao nível no ego; mas nós não somos o ego, o ego é um interface social. Se o autoconhecimento é contactar a nossa essência, esta é simplesmente paz, amor e harmonia, que embora sejam nomes não contêm qualquer tipo de limitação.