Este processo de autoconhecimento cruza também com a espiritualidade. A civilização Ocidental não tem uma tradição muito forte nesta abordagem; a visão tradicional é baseada na religião, com um peso esmagador do Cristianismo, numa visão de um Deus exterior a nós, transcendente, superior.
O mesmo não acontece no Oriente, onde algumas correntes do Hinduismo, Budismo e também o Taoismo, nos apresentam abordagens da vida espiritual focadas no interior. O autoconhecimento é um caminho particularmente importante.
Os livros sagrados do Hinduismo (Vedas), em especial nos seu capítulos filosóficos, Upanishads, afirmam a identidade entre Homem e Deus. Há depois escolas filosóficas como a Advaita Vedanta que vão mais longe e dizem que Brahman é a única realidade, que na nossa essência somos nada mais, nada menos, do que Deus. Quando percorremos o caminho da espiritualidade e aprofundamos o processo de autoconhecimento podemos tornar esses ensinamento uma realidade, ou seja, podemos saber, na nossa experiência, que somos Brahman. Se sentimos que somos uma pessoa, dentro de um corpo, com coisas para fazer, sítios para ir, que se relaciona com pessoas diferentes de nós, o caminho pode levar-nos à iluminação, ou seja, à experiência efetiva da nossa natureza divina. E não nos apresentam uma proposta de fé, convidam-nos a fazer um trabalho que leve à constatação total da unicidade. No Budismo é o chamado Nirvana. No Tao Te Ching, Lao Tzu repete verso após verso que o conhecimento do Tao está no nosso interior.
Isto são ideia muito giras, mas em que medida ajuda na nossa vida? Estamos perante a única proposta que conheço para uma existência feliz, que nos permite transcender o sofrimento, uma constante na existência humana. E como acontece? Quando percebemos que não somos o corpo, que é algo que funciona sozinho e que nós somos apenas observadores de algumas coisas que se passam; tal como não somos a mente, um conjunto de pensamentos que estão tão próximos de nós que nos identificamos com eles, mas que também são observados por nós; o que resta é vida, consciência. Essa vida, essa consciência são a nossa essência, o nosso verdadeiro ser. Quando estabilizamos nesse conhecimento, nessa experiência, essas escolas dizem-nos que é possível transcendermos esta consciência limitada à pessoa e sentimos o nosso verdadeiro eu: a consciência cósmica que trespassa e origina tudo o que existe. Percebemos que tudo o que existe é uma espécie de ilusão criada pela mente, que não afeta o nosso ser. Transcendemos o sofrimento quando se torna uma realidade para nós que o universo é irreal, é uma projeção de Brahman, que observa sem ser afetado pelo que “acontece”.
Assim, que mais podemos querer na vida do que conhecer a nossa essência, a “verdadeira” natureza do universo e transcender o sofrimento desta vida? O autoconhecimento é um dos caminhos...